5 de outubro de 2024

A Igreja diante das novas realidades da comunicação

É possível entender que as novas tecnologias, inclusive as novas formas de comunicação, estão estritamente relacionadas e têm interferência direta na constituição dessa nova cultura, a da comunicação. E nessa realidade, como se posiciona a Igreja? Estaria ela preparada a evangelizar, utilizando-se dessa nova linguagem?

A Igreja Católica, desde o florescer das novas tecnologias, vem incentivando o desenvolvimento e o fortalecimento da Pastoral da Comunicação. Documentos como Communio et Progressio, da Comissão Pontifícia para as Comunicações Sociais (1971), e o Estudo 101 da CNBB (2011) comprovam essa hipótese. Ainda teremos a oportunidade de navegar sobre outros documentos e textos eclesiais que falam sobre a Comunicação.

Mas voltando às novas realidades da comunicação, o advento das novas tecnologias evidenciou ainda mais a necessidade desses instrumentos para a Evangelização. É preciso se aproximar desse novo sujeito contemporâneo e reconhecer que a comunicação, inclusive as “new media”, é um importante instrumento para proclamar a mensagem evangélica.

Padre Zezinho, em uma de suas obras, afirma que há 30 ou 40 anos, as igrejas tinham apenas a força do púlpito ou de algum periódico. Hoje, porém, o púlpito se ampliou, sendo necessário se preparar para bem comunicar. “Se ontem era o púlpito que levava às antenas, hoje são as antenas que mais gente levam aos templos para ouvir a voz que vem do púlpito”. (Do púlpito para as antenas: a difícil transição. p. 10).

Um pensamento válido para os dias atuais, desde que se obedeça a um ponto fundamental: não basta apenas comunicar, é preciso saber o que comunicar e como comunicar.

A Igreja Católica Apostólica Romana tem uma história de mais de dois mil anos. Uma tradição que, ao longo dos séculos, vem contribuindo e defendendo o desenvolvimento do ser humano na sua integridade. Sendo Jesus Cristo o centro, a Igreja tem por princípio anunciar a Palavra de Deus para todos os homens, conforme mandamento bíblico: “Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulas, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-lhes a observar tudo o que vos ordenei!”. (Mt 28, 19-20a).

Contudo, como os Bispos reunidos em Aparecida em 2007 já alertaram, vive-se um tempo de transformações profundas, que afetam a todos. Mudanças que não ficam apenas no campo geográfico, mas também social, ético, científico, tecnológico e, especialmente, cultural. Não é apenas uma época de mudanças, mas uma “mudança de época, e seu nível mais profundo é o cultural”. (Aparecida, 44).

Enfim, experimenta-se um novo tempo, buscam-se novos valores e conceitos. Surgem transtornos. O Homem vale menos do que as coisas.

 E não há como a Igreja fugir ou se abster, é preciso dialogar com essa cultura, a qual a busca desesperadamente a sua identidade.

O Documento de Aparecida ainda afirma que: “A novidade dessas mudanças, diferentemente do ocorrido em outras épocas, é que elas têm alcance global que, com diferenças e matizes, afetam o mundo inteiro… Um fator determinante dessas mudanças é a ciência e a tecnologia, com sua capacidade de manipular geneticamente a própria vida dos seres vivos, e com sua capacidade de criar uma rede de comunicações de alcance mundial, tanto pública como privada, para interagir em tempo real, ou seja, com simultaneidade, não obstante as distâncias geográficas”. (Aparecida, 34).

E não há como a Igreja fugir ou se abster, é preciso dialogar com essa cultura, a qual busca desesperadamente a sua identidade (Puntel & Corazza, 2007, p. 35). Mas como estabelecer esse diálogo? Utilizando-se da própria comunicação, de forma organizada, ou seja, estabelecendo uma ação pastoral que obedeça a uma pedagogia, assim como Jesus Cristo, respeitando um processo de inculturação e encarnação da Mensagem. A autocomunicação de Deus continua se dando pelo anúncio da Igreja. Segundo Puntel e Corazza (2007, p. 28), “a pedagogia para uma ação pastoral enquanto processo implica conjugar, com arte, o trinômio Igreja-Evangelho-Cultura”.

Para tanto, não basta apenas querer, é preciso conhecer e entender a nova realidade e o lugar que se quer evangelizar. É o “lugar teológico” de atuação da Igreja. A mensagem de Cristo não pode ficar guardada ou restrita, mas deve ser anunciada a todos os povos, sem exceção, continuando a obra salvífica do Pai. É importante que as pessoas saibam que os valores do Reino podem ser vividos e não apenas idealizados.

Andrey Nicioli

*a12.com