13 de dezembro de 2024

Os jovens da geração Y e o futuro da Igreja

Como tratar sobre fé, religião e evangelização com os jovens de hoje? Há um caminho para atraí-los para as coisas de Deus?

Nos últimos dez anos, cerca de 35 milhões de adolescentes¹ deixaram a infância para trás e passaram a integrar o maior contingente de jovens que o Brasil já teve, causando uma verdadeira revolução nas relações sociais do nosso tempo.
Ousados, buscam não só um futuro promissor na vida profissional, mas, acima de tudo, um espaço na sociedade. Querem ser ouvidos, respeitados, dizem a verdade com sinceridade e não se intimidam em questionar tudo aquilo que não concordam até entenderem os seus porquês.  Aprenderam desde cedo, com seus pais e professores, que podiam mudar o mundo… Acreditaram e se prepararam para isso!

Eles são a chamada geração Y: jovens nascidos entre os anos 80 e 90, num contexto sócio-político mais ameno, que não conheceram a ditadura, nem as máquinas de escrever. Quando se deram por gente, já conviviam com tecnologias modernas como microondas, notebook, internet, tv a cabo, celulares, etc. Geralmente não ouviram muitos “nãos” em suas infâncias, tiveram tudo (ou quase tudo) o que quiseram, graças a uma elevação do padrão de vida geral, dividiram o que tinham com poucos irmãos (se os tiveram) e provavelmente foram super protegidos por seus pais de todos os riscos que o mundo poderia lhes oferecer. Isso explica porque essa geração é tão alegre, autoconfiante e dinâmica².

Diariamente, em nossas paróquias e comunidades, convivemos a todo instante com esses jovens, mas será que estamos preparados para acolhê-los?

Há quem os acuse de mimados, egoístas, superficiais, mas ao contrário do que nos parece, quando devidamente entendidos e respeitados, esses jovens são fortes aliados na transformação de um ambiente pacato e rotineiro em um lugar alegre e cheio de energia, pois reúnem algumas características bem marcantes:

Facilidade em trabalhar em equipe: A imersão cada vez mais intensa dos jovens no mundo virtual, aliada aos padrões de relacionamento desenvolvidos nos sites de relacionamento (blogs, orkut), celulares (SMS) entre outros, causou nessa geração um senso coletivo mais forte e eles se sentem mais à vontade partilhando atividades com outros do que assumindo responsabilidades sozinhos.
Sugestão prática – Eles são ótimos parceiros em atividades que necessitem mão de obra mais numerosa e em funções que exijam um compromisso coletivo para atingir os resultados esperados. Convide-os para lavar a igreja ou organizar festas (junina, da padroeira) ou ainda para preparar um sopão com os Vicentinos.

Convívio pacífico com a diversidade: O jovem da geração Y é pacífico. Apresenta suas idéias com clareza e sem receios, mas sabe respeitar as diferenças de opiniões. Acostumado com mudanças constantes (tecnológicas, culturais, climáticas e até de tendências) se adapta bem ao novo e dialoga com vários níveis culturais, bem como com faixas etárias diferentes. Respeita a hierarquia, desde que ela não interfira muito em sua vida pessoal.
Sugestão prática – Integrar estes jovens às funções de relações públicas da paróquia, na equipe de acolhida ou ainda em grupos ecumênicos onde a Paróquia dialogue com outras igrejas pode ser uma boa idéia. É desejável acompanhá-los deixando claro o objetivo que cada atividade deve atingir, avaliando constantemente seus resultados.

Criatividade, ousadia e originalidade: Como fazer uma homilia ou mesmo a leitura de um evangelho algo mais interessante para a comunidade? Pergunte a um jovem da geração Y e prepare-se para uma série de sugestões boas e outras nem tanto… Essa geração, por respeitar bem a diversidade, se coloca no lugar do outro para tentar entendê-lo. Isso traz uma riqueza de experiências muito grande para quem não está acostumado a “ver as mesmas coisas com outros olhos”.
Precisa atrair mais jovens para sua paróquia ou mais agentes de pastoral para o trabalho paroquial? Reúna um grupo de três ou quatro jovens da geração Y e debata com eles. Eles são ousados! Vão falar o que pensam sem vergonha ou medo de magoar. No fim do encontro, liste as opções e coloque em prática algumas delas participando os jovens dos seus resultados.
Sugestão prática – Criar uma missa de jovens em um horário alternativo (aos sábados a partir das 21h) ou um grupo de jovens pode ser um bom começo para atrair esse público.

Antenados em tecnologia: Eles serão responsáveis pelas próximas descobertas que irão facilitar as nossas vidas ainda mais e tenha certeza, você já utiliza no seu dia-a-dia algum tipo de tecnologia criada por eles.
Sugestão prática – Sua paróquia já tem um site? Se sim, ele é dinâmico? É bem visitado? Se a resposta para uma das três perguntas foi “não”, o que mais esperar para atribuir a um jovem da geração Y as funções da sua tecnologia?

Paixão por valores: essa geração de jovens é a primeira a colocar em prática o conceito da auto-realização desde cedo. Segundo uma pesquisa da Fundação Instituto de Administração (FIA/USP) realizada com cerca de 200 jovens de São Paulo 99% dos nascidos entre 1980 e 1993 só se mantêm envolvidos em atividades que gostam, e 96% acreditam que o objetivo do trabalho é a realização pessoal.³ Esses jovens são capazes de dizer não a empregos que remuneram bem se não virem “sentido” naquilo que fazem.

É esse o ponto principal a favor da evangelização dos jovens!

A mensagem do evangelho é forte e atrai. O jovem se encanta pela cruz, pelo exemplo do amor incondicional de Jesus, por suas obras. A justiça, tão presente em seus discursos, é algo almejado e defendido pelo jovem; é uma causa nobre.
Passar a mensagem de forma atrativa e chegar até o coração do jovem é a melhor forma de conquistá-lo plenamente para o Reino de Deus. Eis o nosso desafio.

Se formos analisar, algumas características de Jesus se identificam até hoje com o jovem da geração Y (ousadia, verdade, senso de urgência em mudar o mundo). Não podemos esquecer que sua vida pública ocorreu durante sua juventude e com todo vigor e assim, ele marcou a história da humanidade. O jovem de hoje almeja fazer a sua parte, mas assim como temos um forte propósito, um exemplo a oferecer na Igreja Católica, o mundo moderno oferece outros “ídolos” para os jovens em uma linguagem mais adequada às suas realidades.

Entender os jovens da geração Y e ir ao seu encontro é trazer para a nossa Igreja a renovação, a alegria e o dinamismo que a evangelização tanto precisa.

Fonte: IBMC

Guto Kater

Consultor em Marketing e diretor do IBMC