13 de novembro de 2024

BOMBARDEADOS PELA PROPAGANDA

Para constatar a presença e a intensidade da propaganda comercial na vida social brasileira basta ficar por uma hora acompanhando algum tipo de programa de TV de nosso país. Assiste-se divulgação de toda ordem de produtos e para atender a todo tipo de gosto e aspecto da vida. Aí propagandeia-se: comidas, bebidas, remédios, roupas, maquiagem, carros, diversões (novelas, criações artísticas) …
Um ditado entre nós afirma que “a propaganda é alma do negócio”. É prova de que ela funciona e dá resultados. De fato não é possível nem justo negar que a propaganda tem sua importância na resposta às demandas e necessidades humanas. Ela aponta possibilidades, ajuda a encontrar soluções. Ao meu ver, porém, a receptividade à propaganda, a acolhida indiscriminada e ampla dos seus anúncios, mostra um nível de imaturidade e pouca liberdade das pessoas (a maioria delas) diante do que é divulgado.
No uso da criatividade e inteligência as pessoas humanas, quando se tratar saciar sede física, usam vários recursos para lidar com água não potável ou não naturalmente pura. Fabricam filtros, purificadores, fervem, fazem decantação, colocam sob a luz solar… Sem tais soluções certamente seriam contraídas doenças e se atráiria até mesmo a morte. Diante da propaganda é igualmente necessária a atitude da “filtração” de tudo que é mostrado e proposto como mercadoria útil e necessária ao viver. Adotamos tal atitude?
A impressão que tenho, ouso declarar, é a de que na matéria em questão geralmente as pessoas não passam de mansos cordeirinhos, guiadas e manipuladas conforme caprichos e interesses dos mercadores capitalistas. Corre-se cegamente atrás de tudo que é mostrado através da propaganda, sem discernir devidamente entre o que é necessário e o que é supérfluo; entre o que convém ao consumidor e o que na verdade é interesse dos fabricantes e comerciantes (na verdade focados no lucro, no aumento de riquezas).
Como água impura não filtrada e não tratada causa doenças e pode levar à morte, também a propaganda não submetida a criteriosa avaliação e julgamento tem graves consequências. A primeira delas, bem concreta e visível é afundar as pessoas numa mentalidade e prática consumistas, que faz adquirir, descartar e acumular resíduos (nos cantos das moradias apertadas dos pobres e nos “ombros” da mãe Terra). Outra consequência é cair na completa desorganização financeira e no irremediável endividamento (danos também contra os pobres). Em terceiro lugar, também real e visível, vem a consequência da padronização de comportamentos e práticas sociais. Tal padronização ao meu ver, leva ao coroamento os malefícios e danos do poder propagandístico. As pessoas são jogadas numa postura de profundo artificialismo, levadas a preocupar-se excessivamente com as aparências. Cria –se um nivelamento de superfície, uma igualdade a partir da “casca”. Aí todo mundo usa os mesmo tipos de comidas, bebidas, de roupas e calçados…
Por que não investir no profundo da existência? Por que não dizer que no nível do profundo ( sentimental e espiritual) o ser humano se realiza e se torna feliz quando se abre aos semelhantes ? Por que não propagar e estimular a arte e beleza das relações humanas?
À luz de Deus e de sua Palavra sábia a vida é mais que ter e comer. Por isso Jesus diz que “nem só de pão vivem as pessoas, mas de tudo o que sai da mente de Deus” (ver Mt 4,4).E o Apóstolo Paulo, sintonizado com o Mestre, diz que “a este mundo nada trouxemos e dele nada levaremos. Daí, tendo o suficiente para comer e o básico para vestir, devemos ficar satisfeito”(ver 1Tm 6,7-8).
Para concluir, vejo como oportuno um testemunho dos dias atuais. Está totalmente de acordo com os ensinamentos Bíblicos e demostra, conforme acredito, autêntica liberdade diante da onda avassaladora da propaganda comercial. Tal testemunho nos foi dado por Padre Paco ( espanhol que viveu por muitos anos na Diocese de Crateús). Está contido na seguinte afirmação: “ minha grande alegria é entrar num shopping, olhar para tudo e dizer: ‘eu não preciso de nada disso para viver ’ ”.
Que tal, alargar as fileiras das pessoas livres? Para isto, primeiro, aprendamos a avaliar tudo que a propaganda nos apresenta. Em segundo lugar, digamos “não” a tudo que é supérfluo, que nos endivida, aprisiona e nos padroniza como robôs ou maquinas programadas e movidas por vontade alheia, à base de controle remoto…

Por: Pe. Aldenor

        Diocese de Crateús.