ORIENTAÇÃO PASTORAL AOS ELEITORES DE MONSENHOR TABOSA
Estimados irmãos e cidadãos taboenses, mais um período eleitoral se aproxima. E dessa vez envolvendo o âmbito municipal. Muitos se farão candidatos e se apresentarão a nós que somos eleitores e eleitoras. Tais candidatos buscarão nosso voto e proporão suas “ofertas”. Em certos casos, eleitores é que buscarão os candidatos, e aos mesmos apresentarão seus desejos e solicitações.
Esse período eleitoral é momento apropriado para a gente parar e pensar. É momento que nos convida a refletir. Quero, como animador da fé e orientador dos cristãos de Monsenhor Tabosa, ajudar em tal reflexão. Para isso, devemos começar nos fazendo algumas perguntas:
Política é coisa do diabo?
Os cristãos e os seus líderes podemos dar opinião e nos envolver na política?
Na qualidade de eleitores, ao tratar com nossos candidatos, o que devemos exigir deles?
Temos direito de colocar nossos desejos e interesses pessoais acima dos bens coletivos?
Um eleitor pode vender seu voto?
É preciso uma atitude de intriga e agressividade entre os eleitores por causa de escolhas partidárias diferentes?
O “PREÇO” DA NOSSA DIGNIDADE
São muitas e bastante sérias as perguntas que precisamos responder. Tratar todas com abrangência levaria muito tempo. Vamos tentar aqui o essencial, resumidamente.
Em primeiro lugar, sem abordar as perguntas na sequência em que estão anotadas, vamos pensar no valor e importância do voto.
Para medir e avaliar o valor do voto nós precisamos lembrar primeiro o valor e a grandeza da nossa vida de filhas e filhos de Deus. Trata-se de um valor incalculável. E quem o ensina para nós é o Apóstolo Pedro. Atentos, vejamos o que ele diz: – “Vocês sabem o preço que foi pago para livra-los da vida inútil que herdaram dos seus antepassados. Esse preço não foi uma coisa que perde o seu valor como o ouro ou a prata. Vocês foram libertos pelo precioso sangue de Cristo, que era como um cordeiro sem defeito e sem mancha” (1Pedro 1, 17-19).
O que dizer agora, diante do que nos ensina Pedro? Dá para entender que um eleitor, e que ao mesmo tempo um cristão, aceite ser tratado como uma mercadoria e coloque seu voto em “leilão”, à procura de quem der mais?
SÓ O BEM COMUM É CORRETO
Entendendo e concordando que nosso valor é incalculável, e que não devemos nos colocar na qualidade de uma simples mercadoria, o que então devemos buscar junto aos nossos candidatos?
O desmantelo da nossa sociedade, se pensarmos bem, vem exatamente da atitude individualista e da procura em colocar o interesse individual sempre em primeiro lugar. Daí surge mansão e barraco; latifundiário e sem terra; doutor e analfabeto…
A política, em seu sentido profundo e verdadeiro, é ação de todos pelo bem de todos; é trabalho pelo bem comum. Neste sentido, em lugar de solicitar de um candidato um remédio para diarreia, o correto e solucionador é reivindicar saneamento básico, que significa: canalização de esgoto, coleta de lixo e água tratada. Isto se realiza para toda a população de um bairro ou cidade e é o modo de atacar o mal pela raiz. Correto também, em lugar de exigir uma patrol para fazer um açude ou limpeza de um terreno particulares, é reivindicar o conserto das estradas do município, o que beneficia a todos….
Na política, portanto, a única reivindicação correta e justa é aquela que favorece a coletividade. Trabalhar visando apenas os próprios interesses, em prejuízo do bem comum, é na verdade egoísmo e politicagem.
O BEM COLETIVO BUSCADO COLETIVAMENTE
Diz o saber popular que “uma andorinha só não faz verão”. Colocado dentro do trabalho político e ligado à preocupação com o bem comum, o ditado ensina que ninguém conquista o bem social com esforço individual. Para a melhoria coletiva é preciso lutar coletivamente! E para que isso se torne realidade será indispensável uma mudança de mentalidade e de comportamento. Aí, não serão mais os candidatos que se apresentarão com suas promessas (geralmente não cumpridas). Os eleitores, em suas localidades e com suas necessidades, é que tomarão iniciativas. Neste sentido, de forma bem concreta, deverão juntar-se e fazer o levantamento das suas necessidades. Para ser algo organizado e bem abrangente, convém pensar e apontar necessidades tanto no nível local (bairro ou localidade rural), como de natureza municipal…
Uma vez definido o quadro das necessidades e reivindicações, aí é hora de leva-lo aos candidatos. Isto também como ação coletiva, de uma comissão. Com essa iniciativa, além do amadurecimento político dos eleitores, os candidatos receberão uma importantíssima ajuda. Receberão matéria para organizar planos de trabalho e de governo. Poderão, com isso, evitar gestões feitas às escuras, em que se atira no vazio e se desperdiça ou desvia os sagrados recursos públicos.
AJUDAR É TAMBÉM FISCALIZAR
Conscientes que a verdadeira política é a incansável luta pelo bem comum, devemos então vigiar e ajudar para que nossos líderes e representantes nunca se afastem deste princípio. Concretamente, como ajudaremos? Novamente com organização e trabalho conjunto! Nada de ação isolada. Afinal, “uma andorinha só não faz verão”. Assim, tão logo passem as eleições, as pessoas com mais experiência e espírito de liderança, deverão se agrupar e constituir um tipo de comissão de acompanhamento e fiscalização da gestão municipal. Papel da mesma, em resumo, será identificar os montantes dos recursos que chegam ao município; para que são destinados; como são aplicados. E sendo necessário, assumirá a tarefa de alertar sobre falhas ou erros administrativos. Como também deverá sugerir caminhos que sejam melhores e mais conforme o principio do bem comum.
COISA DE DEUS
Assim, caros irmãos e eleitores taboenses, a política como trabalho e promoção do bem comum, sem desviar-se para a politicagem, é atividade sagrada; é coisa de Deus. Enquanto que uma pessoa comum, através de uma caridade individual, pode beneficiar poucos necessitados, a ação de um governante é bem diferente. Ele pode, com ações justas, beneficiar seu município inteiro. O resultado dessas ações, portanto, é largo e abrangente. É daí que o Papa Paulo VI foi levado a dizer que “a política é a forma mais perfeita de praticar a caridade”.
Por causa de uma atividade tão nobre não é sensato nos agredirmos. O que convém é o respeito às escolhas de cada um. A disputa seja para ver quem melhor identifica os problemas da comunidade e do município, e que daí apresenta as melhores propostas aos candidatos. Deste modo sendo compreendida e assumida, faremos da política uma arma de mudança social, um meio de transformação e construção da verdadeira humanidade. E estaremos, enfim, à altura do sangue de Cristo derramado por nós.
Para melhor uso e aproveitamento do texto, sugiro estuda-lo em grupo, na comunidade. Aí, responder:
1. O que foi mais importante e esclarecedor na leitura?
2. Das sugestões apresentadas, o que é possível assumir e encaminhar de modo imediato?
Obs.: Alguém deve coordenar a leitura e a conversa, cuidando para que todos possam expressar sua opinião.
Rogando as bênçãos e luzes do Deus de toda sabedoria para os cristãos e eleitores de Monsenhor Tabosa, subscrevo-me com estima:
Pe. Aldenor Claudino de Oliveira – 02/08/2016.
AOS CANDIDATOS A CARGOS ELETIVOS EM MONSENHOR TABOSA
UMA EXORTAÇÃO CRISTÃ
Justificativa
Nobre candidato (a)_______________________________, pensei e julguei conveniente dirigir-lhe uma palavra fraterna e de iluminação. Não é com motivação partidária, e sim cristã; não é com espírito de rivalidade e competição, mas com o respeito devido a toda pessoa humana e, especialmente, por causa de nossa responsabilidade pastoral junto aos filhos e filhas de Deus do município de Monsenhor Tabosa. Sou líder cristão e você, como os demais candidatos (as) envolvidos (as) na campanha eleitoral em andamento, é uma pessoa batizada. Logo, portanto, trata-se de pessoas cristãs. Sou, então, seu irmão e líder espiritual. Assim, não posso ficar indiferente aos caminhos que vivem a percorrer. É minha tarefa, por dever de ofício, oferecer ajuda e orientação que protejam as ovelhas sob minha responsabilidade dos perigos que surgem nas estradas da vida. Tais perigos, na atividade partidária, costumam ser: esquecer o bem comum e deixar-se dominar pelo interesse próprio; fazer do poder um instrumento de dominação, levando a tratar o povo apenas como escada; governar sem transparência e sem prestar contas, como se os recursos administrados fossem próprios e não do povo; governar de forma autoritária e ditatorial, sem admitir crítica e sem disposição de corrigir falhas.
Vocação e serviço
A sabedoria incalculável do Autor da vida criou e organizou a humanidade de uma forma perfeita. Fez-nos de maneira semelhante ao corpo individual. Neste, partes variadas e com funções também variadas, formam um todo harmonizado e maravilhoso. O corpo social, do mesmo modo, tem variados componentes e diferentes funções. Para seu funcionamento, Deus atribuiu dons e capacidades às pessoas. É ai, que alguns são dotados com a vocação politica, com habilidade para liderar e organizar a vida social. Política, por tanto, é vocação, é dom e é chamado de Deus. Nesta qualidade, ela é um nobre e sagrado serviço em favor da vida e da humanidade. Seu direcionamento e abrangência vão além de um indivíduo, ou além das pessoas tomadas de forma isolada. Seu alcance é coletivo e social. É certamente por isto que o Papa Paulo VI afirmou que a politica é a melhor maneira de praticar a caridade.
Propostas, em lugar de competição destrutiva
Compreendida e colocada em seu verdadeiro sentido (uma atividade elevada e digna) como, então, conduzi-la e vivenciá-la numa situação de campanha e concorrência eleitoral?
Em tal situação, ao que pensei, é preciso consciência social e senso cristão. Com estas características, a concorrência eleitoral e partidária se dará dentro dos limites do respeito mútuo, sem violência ou agressões destrutivas. Depois, terá como mola impulsionadora propostas e planos de ação. Será a competição em mostrar o melhor conhecimento e as melhores ideias para solucionar os problemas da sociedade municipal.
Coragem de inovar
Os que forem vitoriosos no embate eleitoral precisam ser grandes, idealistas e inovadores. E como o serão?
Será preciso demonstrar um duplo reconhecimento: primeiro, de que o povo é o senhor e sujeito da política partidária. Em segundo lugar, reconhecer que liderar e governar não é ser patrão, mas servo da sociedade. A partir daí, de modo prático e concreto, adotar meios e iniciativas que facilitem e ajudem na expressão e aprimoramento da cidadania. Acredito que para isso serão indispensáveis medidas como:
– Consulta à população e definição de prioridades (“orçamento participativo”);
– Prestação de contas periódica;
– Criação de “ouvidorias” para ouvir reclamações e permitir monitoramento por parte da população…
Os carentes diante dos olhos
Será ainda necessário e fonte de inspiração aos que se elegerem ter diante dos olhos a realidade dos mais carentes e sofridos da sociedade. Como desviar recurso público e satisfazer vaidades pessoais quando tantos não têm o necessário para viver? Como agir sem planejamento e desperdiçar recursos que fazem falta a tanta gente?
Os necessitados diante dos olhos, enfim, serão critério de avaliação da seriedade e equidade das ações políticas e administrativas. E para quem tem uma consciência que funciona, serão uma vacina a imunizar contra os vírus da vaidade, do interesse próprio e da desonestidade.
Pe. Aldenor C. de Oliveira
22/07/2016