13 de dezembro de 2024

UMA REFLEXÃO SOBRE O CONCEITO DE SUICÍDIO EM DURKHEIM E A BUSCA DE SENTIDO DE VIKTOR E. FRANKL

Jorge Luiz da Silva Lira*

RESUMO

O intuito desse artigo é refletir os pressupostos de como o sociólogo

Durkheim definiu o conceito de suicídio na sua obra “O Suicídio”.  Ao mesmo tempo, proporcionar uma reflexão sobre a importância do indivíduo em sua busca de sentido, na

linha de pensamento do psiquiatra Viktor E. Frankl, na sua obra “Em Busca de

Sentido”.

Palavras-chave: Suicídio, Sentido, Sociólogo.

INTRODUÇÃO

Este trabalho visa descrever, de forma breve, o conceito de suicídio clássico

do sociólogo Durkheim. O fenômeno do suicídio não é algo novo na sociedade.

Permanece sendo uma problemática, que percorre séculos como discussão

particular de grandes pensadores. Desse modo, Durkheim procurou esclarecer,

numa época marcada por crises econômicas, o que levaria uma pessoa a tirar sua

própria vida.

O presente artigo será dividido em três temáticas. No primeiro tema será

tratado uma concepção sociológica do que seria o suicídio e suas causas. Na

segunda temática abordaremos os três tipos de suicídio, e no terceiro tema

buscar-se-á pontuar a relação do individuo que busca um sentido para sua vida

com uma realidade marcada pelo suicídio, na perspectiva do psiquiatra Viktor E. Frankl.

________________________

*Aluno Bacharelando no Curso de Filosofia pela Faculdade Católica de Fortaleza.

  1. CONCEITOE CAUSAS DO SUICÍDIO

Na introdução de sua obra “O Suicídio’’, Durkheim deixa bem claro que não

deseja fazer um estudo etimológico da palavra suicídio. Ele diz o seguinte: “Seria

supérfluo definí-lo pois, necessariamente, se incorreria em graves confusões. Não

bastando somente a compreensão destas palavras e conceitos”.[1]

Sob um alicerce puramente sociológico, Durkheim afirma:

Chama-se suicídio todo caso de um ato positivo ou negativo

praticado pela própria vítima, ato que a vítima sabia dever produzir

este resultado. Sem dúvida, o suicídio é vulgarmente e antes de tudo

o ato de desespero de um indivíduo a quem a vida já não interessa.

( Durkheim,1983 p.166)

Diante dessa ultima definição do suicídio, Frankl discordaria totalmente de

Durkheim. Para Frankl, não importa o grau de desespero do indivíduo; ele pode voltar

ao seu estado normal, pois “o ser humano pode erguer-se sobre si, crescendo para

além de si mesmo, até mesmo em seu último instante de vida, e que, ao fazê-

lo, o homem reinveste de sentido…”.[2] Essa é uma verdade indubitável para Frankl.

Percebemos que há certa consciência desse indivíduo para mais ou para

menos acerca do seu ato de tirar a própria vida. Para alguns, essa consciência pode ser bem clara ou simplesmente algo sem importância, para um indivíduo decidido

a suicidar-se.  Sobre isso, Durkheim vai dizer: “o ato que a consagra é realizado com

conhecimento de causa; é que a vítima, no momento de agir, sabe o que vai resultar

da sua conduta, seja qual for a razão que a levou a conduzir-se assim”. [3]

Em poucas palavras, Durkheim resume as causas do suicídio, dizendo o

seguinte:

Nas constatações judiciárias que se referem cada vez que há um

suicídio, apontar-se o motivo (desgosto da família, dor física ou outra,

remorso,     embriaguez,     etc.)    que    se     admite    ter    sido    causa

determinante e, nos resumos estatísticos de quase todos os países…

(Durkheim,1983 p.179)

 

O sociólogo não se acha no direito de universalizar uma única causa do

suicídio, mas deixa claro que são muitos os motivos que levam alguém a se matar.

Para Durkheim, as causas se alteram, pois “um se mata no bem-estar e outro na

pobreza”.[4]

  1. TRÊS TIPOS DE SUICÍDIOS

No livro II sobre causas sociais e tipos sociais, Durkheim dedica-se a expor sua

tríplice do suicídio. Desse modo, ele caracteriza três tipos de suicídio:

O primeiro é o suicídio egosísta. Este seria uma atitude de isolamento total com o

convívio social, “caracterizado por um estado de depressão e de apatia, fruto de um

individualismo exagerado” (Durkheim, p.381).

Durkheim chega à identificação desse suicídio através de estatísticas que ele

fez com instituições da sociedade religiosa, política e doméstica.

O Segundo suicídio é o suicídio altruísta. O indivíduo está demasiadamente

unido à sociedade, que é capaz de dar sua vida por ela. Exemplo de suicídio altruísta

seria aquele soldado que corre para uma morte certa para salvar o seu pelotão. Ele não

quer perecer e, no entanto, não será o autor da sua própria morte.

O último tipo de suicídio é o anômico. Anomia é a situação em que o ser humano

não encontra, de forma nenhuma, razão nem nele mesmo ou em algo exterior a ele (a

sociedade). Por algum motivo, ele carece de normas que o guiem corretamente suas atitudes. Durkheim, a respeito desse suicídio diz que, “a anomia provoca um

estado de desespero e de cansaço exasperado, que pode (…) virar-se contra o

próprio indivíduo ou contra outrem… ’’. (Durkheim, p.383)

O sociólogo argentino Juan Carlos Portantiero, fazendo uma observação

acerca dos três suicídios diz o seguinte:

Nos três casos… Trata-se de fenômenos individuais que respondem a

causas sociais, as correntes suicidógenes de distinto tipo que estão

presentes na sociedade. Assim sendo, esse ato extremo, exasperado, de

aparente individualismo que é o suicídio pode ser tema da sociologia.

(la sociologia clássica: Durkheim y Weber, Editores de América Latina,

Buenos aires, 1997)

 

 

 

 

  1. ABUSCA DE SENTIDO

Na linha de pensamento do psiquiatra Viktor E. Frankl, a atitude de tirar a

própria vida entra num contexto em que o indivíduo perdeu ou não encontrou sentido

em sua vida. Durkheim definiu o suicídio com a expressão “ato de desespero”. No

entanto, Frankl usa a expressão “ Vácuo Existencial”, para caracterizar essa perda de

sentido.

O vazio existencial é um fenômeno muito difundido no século XX. Isso é

compreensível; pode ser atribuído a uma dupla perda sofrida pelo ser

humano desde que se torne um ser verdadeiramente humano. O vazio

existencial manifesta-se principalmente num estado de tédio. Agora

podemos entender por que Schopenhauer disse que, aparentemente, a

humanidade estava fadada a oscilar eternamente entre os dois extremos de

angústia e tédio.

(Frankl, Em busca de Sentido, p.131)

O encontrar-se com o seu sentido de viver faz uma diferença enorme em

nossa vida. E mesmo que caiamos num “Vácuo Existencial” onde ninguém está

isento dele, Frankl diz que, “ora, dependendo da atitude que escolhe ter, o ser

humano é capaz de encontrar e realizar sentido até mesmo numa situação

desesperadora, sem saída”.[5]

Essa busca de sentido tem duas faces: uma de bom êxito e outra de

frustação. Frankl profere que, “a busca por sentido certamente pode causar tensão

interior em vez de equilíbrio interior”.[6] Não precisamos nos aterrorizar por tal verdade

revelada, pois, “essa tensão é inerente ao ser humano e por isso indispensável ao

bem-estar mental”.[7] A permissão desse mal (tensão) produzirá um bem maior

(saúde mental). Desse modo, concordamos com Frankl que:

O ser humano realmente precisa não é um estado livre de tensões,

mas antes a busca e a luta por um objetivo que valha a pena, uma tarefa

escolhida livremente. O que ele necessita não é a descarga de tensão a

qualquer custo, mas antes o desafio de um sentido em potencial á espera

de seu cumprimento. O ser humano precisa não de homeostase, mas

daquilo que chamo de “ noodinâmica”, isto é, da dinâmica existencial num

campo polarizado de tensão, onde um polo está representado por um

sentido a ser realizado e o outro polo, pela pessoa que deve realiza-lo

(Frankl, Em busca de Sentido, p.130)

Frankl acredita piamente que, diante dessa ânsia de tirar a própria vida ou

desespero existencial, o melhor a se fazer é tirar dessa realidade algo positivo.

Um otimismo diante da tragédia e tendo em vista o potencial humano que, nos seus melhores aspectos, sempre permite: transformar o sofrimento numa conquista e numa realização humana; extrair da culpa a oportunidade de mudar a si mesmo para melhor; fazer da transitoriedade da vida um incentivo para realizar ações responsáveis.

(Frankl, Em busca de Sentido, p.161)

Considerações Finais

Enfim, sabemos que o suicídio é uma atitude desesperadora em que o

indivíduo não vê solução ou ânimo bastante para continuar a viver. Ele se convence

de que a única saída desse desespero é a morte. No entanto, o que se precisa fazer

é lutar por um sentido que lhe dê razões para viver. É óbvio que o sofrimento é

inevitável, mas podemos tomar atitudes para tais circunstâncias se modificarem.

Fica nítido que o problema do suicídio está muito ligado a uma problemática

(Vácuo Existencial) em buscar de sentido para a vida. Isso nos leva a refletir a

respeito de como damos a respostas aos nossos problemas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

DURKHEIM, Émile. Da divisão do trabalho social; as regras do método sociológico; o

suicídio; as formas elementares da vida religiosa. São Paulo: Abril Cultura, 1983 (Os

Pensadores). 245 p.

DURKHEIM, Émile. O Suicídio: estudo de sociologia. Tradução: Monica Stahel. São Paulo:

Martins Fontes, 2000. -(Coleção Tópicos) 513 p.

FRANKL, Viktor E. A Vontade de Sentido: fundamentações e aplicações da logoterapia.

São Paulo: Paulus, 2011. -(Coleção Logoterapia) 223 p.

FRANKL, Viktor E. Em Busca de Sentido: um psicólogo no campo de concentração.

Editora: São Leopoldo. Sinodal; Petrópolis; Vozes, 2008. 184 p.

[1] DURKHEIM, Émile. Da divisão do trabalho social; as regras do método sociológico; o suicídio; as formas elementares da vida religiosa. São Paulo: Abril Cultura, 1983 (Os Pensadores). p.165

[2] FRANKL, Viktor E. A Vontade de Sentido: fundamentações e aplicações da logoterapia. São Paulo:

Paulus, 2011. -(Coleção Logoterapia) p. 99.

[3]DURKHEIM, Émile. Da divisão do trabalho social; as regras do método sociológico; o suicídio; as formas elementares da vida religiosa. São Paulo: Abril Cultura, 1983 (Os Pensadores). p.167.

[4] Ibidem, p. 183.

[5] FRANKL, Viktor E. A Vontade de Sentido: fundamentações e aplicações da logoterapia. São Paulo:Paulus, 2011. -(Coleção Logoterapia) p. 96.

[6] FRANKL, Viktor E. Em Busca de Sentido: um psicólogo no campo de concentração. Editora: São Leopoldo. Sinodal; Petrópolis; Vozes, 2008. p. 129

[7] Ibidem, p. 129.