Jorge Luiz da Silva Lira*
RESUMO
O intuito desse artigo é refletir os pressupostos de como o sociólogo
Durkheim definiu o conceito de suicídio na sua obra “O Suicídio”. Ao mesmo tempo, proporcionar uma reflexão sobre a importância do indivíduo em sua busca de sentido, na
linha de pensamento do psiquiatra Viktor E. Frankl, na sua obra “Em Busca de
Sentido”.
Palavras-chave: Suicídio, Sentido, Sociólogo.
INTRODUÇÃO
Este trabalho visa descrever, de forma breve, o conceito de suicídio clássico
do sociólogo Durkheim. O fenômeno do suicídio não é algo novo na sociedade.
Permanece sendo uma problemática, que percorre séculos como discussão
particular de grandes pensadores. Desse modo, Durkheim procurou esclarecer,
numa época marcada por crises econômicas, o que levaria uma pessoa a tirar sua
própria vida.
O presente artigo será dividido em três temáticas. No primeiro tema será
tratado uma concepção sociológica do que seria o suicídio e suas causas. Na
segunda temática abordaremos os três tipos de suicídio, e no terceiro tema
buscar-se-á pontuar a relação do individuo que busca um sentido para sua vida
com uma realidade marcada pelo suicídio, na perspectiva do psiquiatra Viktor E. Frankl.
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*Aluno Bacharelando no Curso de Filosofia pela Faculdade Católica de Fortaleza.
- CONCEITOE CAUSAS DO SUICÍDIO
Na introdução de sua obra “O Suicídio’’, Durkheim deixa bem claro que não
deseja fazer um estudo etimológico da palavra suicídio. Ele diz o seguinte: “Seria
supérfluo definí-lo pois, necessariamente, se incorreria em graves confusões. Não
bastando somente a compreensão destas palavras e conceitos”.[1]
Sob um alicerce puramente sociológico, Durkheim afirma:
Chama-se suicídio todo caso de um ato positivo ou negativo
praticado pela própria vítima, ato que a vítima sabia dever produzir
este resultado. Sem dúvida, o suicídio é vulgarmente e antes de tudo
o ato de desespero de um indivíduo a quem a vida já não interessa.
( Durkheim,1983 p.166)
Diante dessa ultima definição do suicídio, Frankl discordaria totalmente de
Durkheim. Para Frankl, não importa o grau de desespero do indivíduo; ele pode voltar
ao seu estado normal, pois “o ser humano pode erguer-se sobre si, crescendo para
além de si mesmo, até mesmo em seu último instante de vida, e que, ao fazê-
lo, o homem reinveste de sentido…”.[2] Essa é uma verdade indubitável para Frankl.
Percebemos que há certa consciência desse indivíduo para mais ou para
menos acerca do seu ato de tirar a própria vida. Para alguns, essa consciência pode ser bem clara ou simplesmente algo sem importância, para um indivíduo decidido
a suicidar-se. Sobre isso, Durkheim vai dizer: “o ato que a consagra é realizado com
conhecimento de causa; é que a vítima, no momento de agir, sabe o que vai resultar
da sua conduta, seja qual for a razão que a levou a conduzir-se assim”. [3]
Em poucas palavras, Durkheim resume as causas do suicídio, dizendo o
seguinte:
Nas constatações judiciárias que se referem cada vez que há um
suicídio, apontar-se o motivo (desgosto da família, dor física ou outra,
remorso, embriaguez, etc.) que se admite ter sido causa
determinante e, nos resumos estatísticos de quase todos os países…
(Durkheim,1983 p.179)
O sociólogo não se acha no direito de universalizar uma única causa do
suicídio, mas deixa claro que são muitos os motivos que levam alguém a se matar.
Para Durkheim, as causas se alteram, pois “um se mata no bem-estar e outro na
pobreza”.[4]
- TRÊS TIPOS DE SUICÍDIOS
No livro II sobre causas sociais e tipos sociais, Durkheim dedica-se a expor sua
tríplice do suicídio. Desse modo, ele caracteriza três tipos de suicídio:
O primeiro é o suicídio egosísta. Este seria uma atitude de isolamento total com o
convívio social, “caracterizado por um estado de depressão e de apatia, fruto de um
individualismo exagerado” (Durkheim, p.381).
Durkheim chega à identificação desse suicídio através de estatísticas que ele
fez com instituições da sociedade religiosa, política e doméstica.
O Segundo suicídio é o suicídio altruísta. O indivíduo está demasiadamente
unido à sociedade, que é capaz de dar sua vida por ela. Exemplo de suicídio altruísta
seria aquele soldado que corre para uma morte certa para salvar o seu pelotão. Ele não
quer perecer e, no entanto, não será o autor da sua própria morte.
O último tipo de suicídio é o anômico. Anomia é a situação em que o ser humano
não encontra, de forma nenhuma, razão nem nele mesmo ou em algo exterior a ele (a
sociedade). Por algum motivo, ele carece de normas que o guiem corretamente suas atitudes. Durkheim, a respeito desse suicídio diz que, “a anomia provoca um
estado de desespero e de cansaço exasperado, que pode (…) virar-se contra o
próprio indivíduo ou contra outrem… ’’. (Durkheim, p.383)
O sociólogo argentino Juan Carlos Portantiero, fazendo uma observação
acerca dos três suicídios diz o seguinte:
Nos três casos… Trata-se de fenômenos individuais que respondem a
causas sociais, as correntes suicidógenes de distinto tipo que estão
presentes na sociedade. Assim sendo, esse ato extremo, exasperado, de
aparente individualismo que é o suicídio pode ser tema da sociologia.
(la sociologia clássica: Durkheim y Weber, Editores de América Latina,
Buenos aires, 1997)
- ABUSCA DE SENTIDO
Na linha de pensamento do psiquiatra Viktor E. Frankl, a atitude de tirar a
própria vida entra num contexto em que o indivíduo perdeu ou não encontrou sentido
em sua vida. Durkheim definiu o suicídio com a expressão “ato de desespero”. No
entanto, Frankl usa a expressão “ Vácuo Existencial”, para caracterizar essa perda de
sentido.
O vazio existencial é um fenômeno muito difundido no século XX. Isso é
compreensível; pode ser atribuído a uma dupla perda sofrida pelo ser
humano desde que se torne um ser verdadeiramente humano. O vazio
existencial manifesta-se principalmente num estado de tédio. Agora
podemos entender por que Schopenhauer disse que, aparentemente, a
humanidade estava fadada a oscilar eternamente entre os dois extremos de
angústia e tédio.
(Frankl, Em busca de Sentido, p.131)
O encontrar-se com o seu sentido de viver faz uma diferença enorme em
nossa vida. E mesmo que caiamos num “Vácuo Existencial” onde ninguém está
isento dele, Frankl diz que, “ora, dependendo da atitude que escolhe ter, o ser
humano é capaz de encontrar e realizar sentido até mesmo numa situação
desesperadora, sem saída”.[5]
Essa busca de sentido tem duas faces: uma de bom êxito e outra de
frustação. Frankl profere que, “a busca por sentido certamente pode causar tensão
interior em vez de equilíbrio interior”.[6] Não precisamos nos aterrorizar por tal verdade
revelada, pois, “essa tensão é inerente ao ser humano e por isso indispensável ao
bem-estar mental”.[7] A permissão desse mal (tensão) produzirá um bem maior
(saúde mental). Desse modo, concordamos com Frankl que:
O ser humano realmente precisa não é um estado livre de tensões,
mas antes a busca e a luta por um objetivo que valha a pena, uma tarefa
escolhida livremente. O que ele necessita não é a descarga de tensão a
qualquer custo, mas antes o desafio de um sentido em potencial á espera
de seu cumprimento. O ser humano precisa não de homeostase, mas
daquilo que chamo de “ noodinâmica”, isto é, da dinâmica existencial num
campo polarizado de tensão, onde um polo está representado por um
sentido a ser realizado e o outro polo, pela pessoa que deve realiza-lo
(Frankl, Em busca de Sentido, p.130)
Frankl acredita piamente que, diante dessa ânsia de tirar a própria vida ou
desespero existencial, o melhor a se fazer é tirar dessa realidade algo positivo.
Um otimismo diante da tragédia e tendo em vista o potencial humano que, nos seus melhores aspectos, sempre permite: transformar o sofrimento numa conquista e numa realização humana; extrair da culpa a oportunidade de mudar a si mesmo para melhor; fazer da transitoriedade da vida um incentivo para realizar ações responsáveis.
(Frankl, Em busca de Sentido, p.161)
Considerações Finais
Enfim, sabemos que o suicídio é uma atitude desesperadora em que o
indivíduo não vê solução ou ânimo bastante para continuar a viver. Ele se convence
de que a única saída desse desespero é a morte. No entanto, o que se precisa fazer
é lutar por um sentido que lhe dê razões para viver. É óbvio que o sofrimento é
inevitável, mas podemos tomar atitudes para tais circunstâncias se modificarem.
Fica nítido que o problema do suicídio está muito ligado a uma problemática
(Vácuo Existencial) em buscar de sentido para a vida. Isso nos leva a refletir a
respeito de como damos a respostas aos nossos problemas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
DURKHEIM, Émile. Da divisão do trabalho social; as regras do método sociológico; o
suicídio; as formas elementares da vida religiosa. São Paulo: Abril Cultura, 1983 (Os
Pensadores). 245 p.
DURKHEIM, Émile. O Suicídio: estudo de sociologia. Tradução: Monica Stahel. São Paulo:
Martins Fontes, 2000. -(Coleção Tópicos) 513 p.
FRANKL, Viktor E. A Vontade de Sentido: fundamentações e aplicações da logoterapia.
São Paulo: Paulus, 2011. -(Coleção Logoterapia) 223 p.
FRANKL, Viktor E. Em Busca de Sentido: um psicólogo no campo de concentração.
Editora: São Leopoldo. Sinodal; Petrópolis; Vozes, 2008. 184 p.
[1] DURKHEIM, Émile. Da divisão do trabalho social; as regras do método sociológico; o suicídio; as formas elementares da vida religiosa. São Paulo: Abril Cultura, 1983 (Os Pensadores). p.165
[2] FRANKL, Viktor E. A Vontade de Sentido: fundamentações e aplicações da logoterapia. São Paulo:
Paulus, 2011. -(Coleção Logoterapia) p. 99.
[3]DURKHEIM, Émile. Da divisão do trabalho social; as regras do método sociológico; o suicídio; as formas elementares da vida religiosa. São Paulo: Abril Cultura, 1983 (Os Pensadores). p.167.
[4] Ibidem, p. 183.
[5] FRANKL, Viktor E. A Vontade de Sentido: fundamentações e aplicações da logoterapia. São Paulo:Paulus, 2011. -(Coleção Logoterapia) p. 96.
[6] FRANKL, Viktor E. Em Busca de Sentido: um psicólogo no campo de concentração. Editora: São Leopoldo. Sinodal; Petrópolis; Vozes, 2008. p. 129
[7] Ibidem, p. 129.