4 de outubro de 2024

POR QUÊ? (A partir das últimas eleições)

Acabamos de concluir no Brasil mais um período eleitoral. A votação e escolha de vereadores e prefeitos ocorreu no recém passado dia dois deste mês de outubro. Logo no dia dois, no ambiente dos comentários e informações sobre candidatos (e patrocinadores) vitoriosos, eu me pus a refletir.

Em certo ditado, exibindo de forma verídica e realista as compunções e patologias de nossa humanidade, nós dizemos: “a medida do ter nunca enche”.  Não é assim em relação às posses materiais? Ocorre de uma pessoa ter comércio (e bem sucedido) em uma cidade. Não lhe parece suficiente. Daí, trata de abrir filiais … Alguém, compra uma fazenda no Ceará. Desfruta de elevado padrão de vida. Porém não aceita como suficiente. E trata de expandir seu domínio: compra (ou invade) terra no Pará, no Maranhão…

No campo da atividade partidária não é diferente. Por isso é comum e rotineiro assistimos casos impressionantes e inexplicáveis. Uma pessoa, por exemplo:

  • Torna-se prefeito de um município. Isto não basta. Luta para ser deputado.
  • É deputado? Luta para manter a esposa ou um irmão na administração municipal.
  • Tem cadeira de deputado e administração do município em seu controle? Não basta. Patrocina campanha e ajuda na eleição de prefeitos de toda uma Região.
  • Depois de controlar seu próprio município e influenciar toda uma Região, a pessoa fica quieta e conformada? Claro que não! Seu alvo seguinte é o Governo Estadual

Métodos usados

Não bastasse a busca incontrolável para ampliar graus e espaços de poder, existe ainda a realidade dos métodos usados para a conquista dos objetivos pretendidos.  É só olhar e pensar com um pouco de atenção (e a necessária imparcialidade) e chegaremos a constatar feitos e práticas que nos surpreendem e assustam. Candidatos, extrapolando os limites da lei e da civilidade negociam, ofendem e pisoteiam a dignidade e sacralidade da vida humana.  Assim, verifica-se a ocorrência de fatos como:

  • Compra de voto.
  • Falsas promessas.
  • Acordos e alianças com pessoas e grupos poderosos que financiam candidaturas.
  • Uso de caixa dois (dinheiro ilegal, não declarado perante a Justiça Eleitoral).
  • Contratação de bandoleiros e capangas, com uso de ameaças, coação e força bruta para amedrontar adversários.
  • Emprego da violência física, chegando-se a casos de assassinatos de concorrentes.
  • Pressão e perseguição de pessoas com espirito crítico e postura de independência…

Onde ficam a razão e a fé?

Ao perceber e pensar sobre toda essa forma de agir de pessoas “humanas”, surge-me a crucial interrogação: POR QUÊ?  E a interrogação se desdobra:

                – por quê a razão e o pensar das pessoas não funcionam? Por quê não conseguem olhar a vida de maneira realista?

É fato incontestável a condição de brevidade da vida humana sobre a Terra. Assim, toda pessoa morre e desaparece. E mais: os bens, o dinheiro, os cargos políticos e o poder não comportam no caixão, junto ao defunto!

– E a, como é entendida e administrada diante dessas situações? É vista como apenas um sentimento interior de cada pessoa? É algo que se manifesta entre as quatro paredes dos templos e que fora delas a gente deixa de lado?

A, adequadamente entendida e vivida, representa uma postura de vida. Daí, não se dissocia nem se separa de nada que a pessoa faz. Rezar, então, é expressão de fé. Mas trabalhar, comprar e vender, se divertir, fazer política partidária, também deve ser expressão da mesma fé. Com essa unificação, sem separar a fé e as ações do dia a dia, coloca-se em prática importantes ensinamentos da Santa Bíblia.  Ela nos declara que a “fé sem obras é morta” (Tiago 2,26). E que da mesma fonte não é possível jorrar água doce e salobra (ver Tiago 3,11-12).

Por fim, para que reflitamos e nos avaliemos, deixo aqui uma última interrogação:

– se somos uma sociedade que fala de Deus, e se mesmo assim cultivamos e desenvolvemos egoísmo e selvagerias, não estamos mostrando e provando uma fé apenas de Missa e de Culto? Uma fé de quatro paredes?


                                                                                                                                                                     Pe. Aldenor C. de Oliveira

(Monsenhor Tabosa – 5.10.16)