Falar com os amigos, marcar encontros, paquerar, compartilhar pensamentos, ideias, opiniões. Publicar um vídeo interessante ou aquelas fotos da reunião da galera, no último fim de semana. Saber o que está rolando agora no mundo de famosos e anônimos, além, é claro, curtir e comentar o que os amigos estão postando.
Essas são algumas das coisas legais que se pode fazer com a ajuda das redes sociais. A facilidade de acesso à internet, a popularização de smartphones e tablets, além do incontável número de aplicativos disponíveis gratuitamente têm proporcionado a pessoas de todas as idades e classes sociais viverem conectadas 24 horas por dia.
Não há dúvida de que a revolução tecnológica encurta distâncias, aproxima pessoas, facilita e barateia os fluxos de informação. Porém, não é só de alegrias que vive a rede.
A cada ano, cresce o número de casos de crimes e abusos praticados com o uso das redes sociais. Casos de racismo, invasão de privacidade e ofensas virtuais são apenas alguns exemplos. Sem citar as redes de pedofilia e grupos de tráfico de pessoas que se utilizam dos ambientes virtuais para encontrar vítimas em potencial.
O problema tem sido cada vez mais comum também com pessoas famosas e anônimas. A falta de critério ao compartilhar informações na internet pode gerar danos irreparáveis. O cuidado deve ser ainda maior quando se trata de crianças e adolescentes. Em geral, eles não conseguem ter a dimensão do perigo que correm ao postar nas redes sociais informações sobre trajetos, endereços, hábitos e ambientes que frequenta.
Segundo o especialista em Tecnologia da Informação, Jorge Aparecido da Silva, os jovens de hoje não estão preocupados com privacidade. Para eles é normal compartilhar tudo o que pensam, veem e fazem. “Basta ver o que postam nas redes sociais para constatar que, se não houver um trabalho de reeducação, o conceito de privacidade como conhecemos deixará de existir”, afirma.
Vida online
De acordo com o especialista em Web e Social Media, Rene Pereira, os casos mais comuns são relacionados ao racismo e à intolerância religiosa. O especialista alerta para o risco de expor a vida na rede. “Criamos uma cultura de permanecer on-line, porém poucas pessoas têm noção de que uma foto postada nas redes sociais nunca mais será deletada da internet”, adverte.
Rene afirma ainda que, entre as mulheres, é preciso todo cuidado com fotos de biquini, pijama ou em poses sexys. “Qualquer smartphone produz fotos alta resolução, que podem ser trabalhadas num software de edição de imagens e parar em qualquer site do mundo em apenas algumas horas. Para se prevenir, o recomendado é utilizar ferramentas de privacidade”.
Há muitos casos em que adolescentes são ameaçadas com a possibilidade de terem fotos íntimas publicadas e cedem a diversos tipos de coação. Nos casos mais trágicos, o desespero leva alguns ao suicídio.
Caso aconteça, a recomendação do especialista é que não guarde segredo, busque ajuda. “Faça um boletim de ocorrência. O caso será encaminhado para a delegacia de crimes virtuais. Normalmente quem prática esse tipo de crime, acredita no anonimato. Porém, tudo fica registrado no endereço de IP, que pode ser facilmente rastreado”, afirma Rene Pereira.
A responsabilidade dos pais
Para ele, é importante que pais e responsáveis estejam atentos ao modo como os filhos usam as redes sociais. “Recomendo a instalação de um software de monitoramento e de classificação etária, para barrar acesso a sites proibidos para menores”, aconselha.
O médico, professor e pesquisador na área de Neurociência do Comportamento, Jô Furlan, concorda. Para ele, não se trata de vigiar os filhos, mas de tratar tudo com clareza. “Ao ser desafiado, um adolescente pode fazer algo que ficará marcado para o resto da vida. Use a internet junto com seu filho. Sejam amigos, compartilhem, de forma que o que ele faz você veja. Se há algo que não quer falar para ninguém, oriente-o a usar o e-mail, que é uma correspondência pessoal. Violação de e-mail é crime. Os pais têm a responsabilidade de monitorar”, argumenta.
De acordo com o médico, a vida de alguém que passa pela exposição de sua intimidade nunca mais será normal. “Ela vai aprender a lidar com a situação. Mas a pessoa se sente tão perseguida que, se alguém olhar para ela diferente, automaticamente não vai entender como uma paquera, mas vai associar ao que viveu. Já vi pessoas entrarem em depressão. É preciso dar apoio, fazer a pessoa entender isso não faz dela uma pessoa inferior ou de caráter duvidoso”, afirma.