“PÁTRIA AMADA BRASIL” – AS ELEIÇÕES MUNICIPAIS VÊM CHEGANDO…
Meus irmãos e irmãs, esta expressão, “Pátria Amada Brasil”, que é um refrão do nosso Hino Nacional Brasileiro: “Entre outras mil, és tu, Brasil, Ó Pátria Amada; dos filhos deste solo, és mãe gentil, Pátria Amada, Brasil”.
Pois é. Esta expressão virou propaganda de campanha na última eleição presidencial, por parte da coligação que elegeu o atual Presidente da República. De frase de campanha tornou-se lema do atual governo federal.
Reflitamos com sinceridade: que o Brasil seja a Pátria Amada dos brasileiros (as), isto ninguém duvida ou nega. Mas, que o lema de governo, quase sempre, não tenha presente os milhões e milhões de filhos deserdados dessa Pátria Amada, também não se pode negar.
A pandemia do novo coronavírus expôs, ainda mais, a grave situação de desigualdade entre os filhos (as) dessa Pátria Amada Brasil. Basta atentar para as estatísticas. Aonde morreu mais gente? Em que camada social o vírus fez mais vítimas? De que cor é a maioria dos falecidos? Em que zonas das grandes cidades o vírus contaminou mais? Para que tipo de cidadão brasileiro faltou leito de UTI?
“Dos filhos deste solo, és mãe gentil, Pátria Amada Brasil”. Será mesmo, que a Pátria Amada tem se comportado como mãe gentil para todos os brasileiros (as), sem discriminação, como geralmente faz uma mãe que ama seus filhos (as)? Desde 1500, essa mãe tem sido mais gentil com uns e menos com outros, não concorda?
O problema não é da Pátria Amada Brasil. Nem a expressão cantada no Hino Nacional Brasileiro deveria ser mudada ou retirada de lá. O problema está na cabeça e no coração, daqueles e daquelas que, de tempo em tempo, de eleição em eleição, vão desposando essa mãe gentil, quase nunca numa atitude de amor, mas quase sempre de “prostituição”.
Quais as intenções de um homem que vai à procura de uma mulher prostituída? Com certeza, não está pensando no prazer, na felicidade, no bem, nos filhos (as) dela. Está, sim, pensando unicamente em aproveitar-se, usufruir de seus encantos, satisfazer suas carências e desejos. Depois de saciado, dane-se a prostituída. Só que ele se esquece de que é ele quem a faz uma prostituída; ela que poderia ser uma mãe gentil, uma esposa amada, uma mulher respeitada.
Há séculos, a Pátria Amada Brasil tem sido entregue, e pior, por muitos de seus filhos (as), nas mãos de homens e mulheres ávidos de prazer; de homens e mulheres que se prostituem com um sistema econômico que idolatra o lucro e mata. E, as Sagradas Escrituras, várias vezes, comparam a idolatria do poder político, econômico, com a prostituição.
Nossa Pátria Amada Brasil precisa urgentemente tornar-se a “Mãe Gentil” dos filhos (as) deste solo, como tantas vezes cantamos no nosso hino nacional. Não apenas de alguns filhos deste solo, mas, sim, de todos.
O slogan da nossa Bandeira Nacional, “Ordem e Progresso”, também precisa ser questionado no seu cumprimento. Estamos assistindo um estado de ordem ou desordem, sobretudo entre aqueles que deveriam cuidar da ordem? E o que dizer do Progresso? Ande pelos becos e ruas das favelas brasileiras, das palafitas sobre os manguezais e regiões ribeirinhas do Brasil! Contemple o rosto da fome de tantos brasileiros desempregados! E pergunte-se: onde estão a Ordem e o Progresso?
Irmãos (ãs), eu amo o Brasil; amo ser brasileiro. Não tenho nenhuma dúvida de que o nosso país tem todas as condições para ser uma “mãe gentil” para todos os filhos (as) deste solo e para quem mais chegar, vindo de fora. Acredito, também, que um progresso sustentável, pensado para todos, é o único que poderá levar à ordem.
“Para o cristão, votar não deve ser apenas uma obrigação, mas sim um ato consciente, pensando no bem da coletividade e do planeta. Todos são corresponsáveis pela realidade política ao seu redor, pois elegem aqueles que tomam as decisões públicas, em vista do bem comum”. (Cartilha de Orientação Política, CNBB Sul 2, 2020). Por isso, “não merecem ser eleitos ou reeleitos candidatos que se rendem a uma economia que coloca o lucro acima de tudo e não assumem o bem comum como sua meta, nem os que propõem e defendem reformas que atentam contra a vida dos pobres e sua dignidade” (Mensagem CNBB, Eleições 2018).
Rezemos por nossa Pátria, o Brasil. Peçamos a Deus que cresça em cada um de nós o senso de responsabilidade para com esta nossa mãe gentil, de modo especial, quando tivermos de escolher aqueles e aquelas que terão como missão, em seus municípios, fazer desta Pátria Amada, uma mãe gentil de todos os brasileiros e brasileiras.
Dom Ailton Menegussi
Bispo Diocesano de Crateús